Ainda não atingimos o “boom de produção”; o etanol ainda não se firmou internacionalmente como um biocombustível e, mesmo assim, o Brasil já é considerado o maior produtor mundial de cana-de-açúcar. Na safra 2005/2006 atingimos a produção de 436,8 milhões de toneladas, a maior da história do país, mas que logo será batida. É esperar para ver.
No início do século passado e até 1930, chegamos a ser o maior produtor mundial de café, que era o nosso principal produto de exportação, atingindo o índice recorde de 56% da pauta de exportação nacional e isso nos gerou muitas divisas e uma época de prosperidade econômica que olhamos até com um certo saudosismo. Pois bem, isto está prestes a acontecer novamente, desta feita, com a cana-de-açúcar. Diria, sem medo de errar, que poderemos ter um novo "ciclo da cana-de-açúcar" na agricultura. Do ponto-de-vista econômico isto é ótimo para o Brasil. Mas e do ponto-de-vista ambiental? Terá o país discernimento e capacidade para controlar a produção de forma que não venha a promover a degradação do meio ambiente? Terá capacidade para criar mecanismos de certificação ambiental que permitam uma produção ambientalmente sustentável? Que tratamento será dado ao vinhoto das usinas, para evitar que poluam os rios e matem os peixes? Como controlar as áreas desmatadas e as reservas florestais? É justamente aí que reside o problema, porque pairam dúvidas (justificáveis) a esse respeito. Com a soja, o Brasil fracassou e áreas enormes foram devastadas para o plantio dessa monocultura, em detrimento da mata nativa. E o que é pior: isso avançou por sobre a Amazõnia Legal e está lá, até hoje. As queimadas continuam e onde havia floresta, o que existe agora são extensas áreas que parecem um “mar de soja”. Árvores? Onde predomina a soja não se vê mais. A fauna e a flora nativas foram completamente destruídas. Se o Governo não consegue controlar as queimadas, se não consegue controlar as derrubadas de árvores feitas pelas madeireiras, se não consegue controlar o garimpo ilegal, não consegue controlar a poluição e o assoreamento dos rios, se nem a pesca predatória ele consegue controlar, como irá controlar as futuras áreas de plantio de cana-de-açúcar, de forma a evitar a degradação ambiental e a instalação de uma monocultura regionalizada que, apesar de lucrativa, pode trazer conseqüências perigosíssimas para o meio ambiente? Não tenham dúvida: a cana-de-açúcar será o nosso novo principal produto de exportação agrícola e o nosso “boom de produção” ainda vai acontecer. Breve veremos pela região amazônica, “mares de soja e de cana”, até onde a vista possa alcançar. Mas não veremos as florestas e teremos perdido, para sempre, toda a biodiversidade daquelas regiões. O Brasil está realmente preparado para isso? Que nos respondam os nossos governantes, antes de se ufanarem por ser, o país, recordista mundial na produção de cana-de-açúcar. O etanol poderá, sim, vir a ser o combustível do futuro e nós os pioneiros no desenvolvimento da tecnologia e fornecedores da matéria-prima. Mas quanto tempo isso durará, até que os países desenvolvidos também nos alcancem e até ultrapassem?O preço pago, se não houver uma boa política de proteção ambiental, terá valido a pena? É bom que se comece a pensar nisso agora, antes que a realidade nos alcance.
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