Quando o sectarismo, religião e política se misturam, as conseqüências são desastrosas
Notícias recentes, mais precisamente, dos dias 13 e 14 de julho de 2010, informam que em Belfast, capital da Irlanda do Norte, e em vários pontos do país, católicos nacionalistas tentaram impedir uma passeata anual da maioria protestante britânica e se envolveram em conflitos com estes e com a polícia, do que resultaram 82 feridos. É para isto que servem as religiões? Intolerância religiosa agressiva e com vítimas? Preconceitos homofóbicos? Alianças políticas? Religiões... ah, religiões. Pregam uma coisa e praticam outra.
Eis aí mais uma das razões por que combatemos as religiões. Não cumprem o papel social que lhes deveria ser destinado e usam uma capa de superficialidade, que é retirada tão logo seus interesses sejam contrariados. Nesses conflitos, não existem mocinhos nem bandidos, pois a falta de diálogo e as reações fazem com que todos estejam errados: provocadores e provocados; agressores e agredidos. Nada justifica.
O episódio é quase uma repetição de um semelhante, "O Domingo Sangrento" ocorrido no mesmo país, na cidade de Derry, em 30/01/1972, quando 13 militantes católicos foram mortos e outros 14 feridos covardemente pelo Exército Inglês, no momento em que realizavam uma passeata pacífica. A motivação da passeata, na época, era a mesma de agora: luta pela liberdade dos direitos civis (irlandeses nunca aceitaram pacificamente a dominação inglesa nem a sua religião, diferente da deles). Ao final do conflito e com mentiras, o Exército conseguiu convencer que agiu em defesa da ordem, nenhum militar foi condenado, e foram até condecorados com medalhas de bravura pela rainha. Será que não aprendem?
Sou um pouco suspeito para falar disso porque sou agnóstico e um irreligioso convicto. Mas basta analisar a história e os fatos passados e presentes para concluir que sempre que a religião se aliou à política dos poderes dominantes houve conflitos e vítimas. E as lições históricas do passado parecem não sensibilizar os líderes religiosos que insistem, cada vez mais, em envolver-se com a política, para, como aliados, manipularem e exercer o poder de controle do povo; povo que a religião deveria defender e não dele se servir ou oferecê-los em holocausto. Sim, é absurdo, mas as religiões traem seus fiéis em troca de favores políticos, geralmente, sempre dos que estão no poder.
De fato, estudando a história, vemos que a Igreja (qualquer uma e não só a católica) sempre se aliou aos vencedores. Quandoi Hitler dominava a Alemanha e ameaçava conquistar o mundo, apoiou-o; quando os conquistadores espanhóis ou ingleses ou franceses invadiam e colonizavam um país, lá iam os "ministros religiosos", na frente, para amansar o povo e entregá-lo, pacífico e convertido, aos conquistadores. No Brasil e na América Central, padres jesuítas chegavam junto com os ocupantes para catequisar os nativos e os índios para os invasores, e assim por diante. Sempre foi isso, em todas as nações colonizadas. E já nem vamos falar das inquisições católicas e das protestantes (que também existiram), para não desviar demais do assunto. De observar apenas que na grande maioria destes episódios a Igreja sempre esteve ao lado dos dominadores, com eles colaborando. E assim também foi no Antigo Egito, onde a religião tinha papel preponderante, com os sacerdotes integrados à casta do poder.
Então, ora bolas, ela não exerce o papel social que preconiza. Só que o povo não vê e prefere acreditar nas mentiras. Não vê ou suspeita (pelo menos), mas não tem disposição para mudar este estado de coisas porque precisa da muleta religiosa, ainda que a um alto preço.
Sim, há pouco mais de 3 meses dávamos esta outra notícia no nosso site "Irreligiosos" (clique no subtítulo acima para acessar). Alguma semelhança não é mera coincidência. É praxe.
Um Presidente "Evangélico", Governando "Sob Inspiração Divina ?"
Finalmente, uma última consideração para nossos leitores pensarem: o ex-presidente americano, George W. Busch, declarava-se abertamente evangélico e dizia governar sob "inspiração divina". Costumava usar a expressão “eixo do mal” para referir-se a vários países islâmicos como o Irã, Iraque, Síria, Líbia, e também à Coréia do Norte, este um país comunista. E o que ele fez com o Iraque? E o que provocou o ataque às "Torres Gêmeas", no 11 de setembro? O que fez com o Afeganistão e quantos países atacou ou perseguiu, com sanções econômicas, por "inspiração divina"?
Quando será que a humanidade vai abrir os olhos?
------------------------------------------------------------------------------
Demais notícias sobre o tópico deste post: procurar no Google, usando as tags: "católicos - Irlanda do Norte", "conflito - Irlanda do Norte" ou simplesmente "Irlanda do Norte" (procurar notícias datadas de 13 ou 14/07/2010). Sites com melhor informação: G1.com, Band News.
3 comentários:
Isso mesmo, a religião sendo sempre usada como meio de legitimação das dominações... Michel Onfray, no seu Tratado de ateologia, ressalta muito bem como o cristianismo foi muito conveniente ao Império Romano por ele ser uma doutrina de submissão e obediência aos superiores - até o "Dai a César o que é de César..." é interpretado como uma renovação do dever de prestar contas ao poder temporal...
Mas a questão da Irlanda do Norte parece ser mais complicada. A religião foi um pretexto, mas o que está por trás é a própria relutância da Coroa britânica em entregar todo o território aos irlandeses: afinal, lembremos, a Irlanda só obteve sua independência após a Primeira Guerra, ou seja, bem recentemente. Então interesses econômicos, militares e políticos sempre estão também em jogo, e às vezes reduzir tudo à religião pode ser muito proselitista. É o que fazem muitos "novos ateus", por exemplo, com relação principalmente aos conflitos no Oriente Médio.
No mais, concordo que se os motivos religiosos fossem sufocados ou ao menos amenizados, haveria progresso. Entretanto, com Rubem Alves, penso que "matando" o deus dos monoteísmos surgiriam outros deuses, que também seriam fatores de guerra, assim como na antiga URSS deificaram-se Lênin, Stálin e o "marxismo-leninismo". E por conta dessa questão - que não deixava de incluir, é claro, intereses estratégicos - tivemos o maior conflito do século XX, que foi a "guerra fria". Acho até que o próprio padrão das "ciências duras", muitas vezes, ao modo dos velhos positivistas, é glorificado como onipotente, quando a análise em Ciênias Humanas exige outros (ou vários) paradigmas.
Abraços!
Isso mesmo, a religião sendo sempre usada como meio de legitimação das dominações... Michel Onfray, no seu Tratado de ateologia, ressalta muito bem como o cristianismo foi muito conveniente ao Império Romano por ele ser uma doutrina de submissão e obediência aos superiores - até o "Dai a César o que é de César..." é interpretado como uma renovação do dever de prestar contas ao poder temporal...
Mas a questão da Irlanda do Norte parece ser mais complicada. A religião foi um pretexto, mas o que está por trás é a própria relutância da Coroa britânica em entregar todo o território aos irlandeses: afinal, lembremos, a Irlanda só obteve sua independência após a Primeira Guerra, ou seja, bem recentemente. Então interesses econômicos, militares e políticos sempre estão também em jogo, e às vezes reduzir tudo à religião pode ser muito proselitista. É o que fazem muitos "novos ateus", por exemplo, com relação principalmente aos conflitos no Oriente Médio.
No mais, concordo que se os motivos religiosos fossem sufocados ou ao menos amenizados, haveria progresso. Entretanto, com Rubem Alves, penso que "matando" o deus dos monoteísmos surgiriam outros deuses, que também seriam fatores de guerra, assim como na antiga URSS deificaram-se Lênin, Stálin e o "marxismo-leninismo". E por conta dessa questão - que não deixava de incluir, é claro, intereses estratégicos - tivemos o maior conflito do século XX, que foi a "guerra fria". Acho até que o próprio padrão das "ciências duras", muitas vezes, ao modo dos velhos positivistas, é glorificado como onipotente, quando a análise em Ciênias Humanas exige outros (ou vários) paradigmas.
Abraços!
Você tem razão, Erick. A religião foi só um pretexto. Mas sempre é. O objetivo da religião é exercer o controle e dominação de grupos, dos quais tira o seu "lucro", o seu status e o seu poder.
Abs!
Postar um comentário
Expresse a sua opinião, positiva ou negativa, sobre o texto acima. Seu comentário, se não retido pelo verificador automático de spam, será publicado de imediato. Se a publicação demorar alguns minutos, retorne e confira!