Todos sabem dos escândalos políticos e impunidades que grassam, há anos, no Congresso Nacional. Alguns deles vêm a público; outros, sequer são descobertos. E dos que se tornam públicos, vemos que os responsáveis, protegidos pela "imunidade parlamentar", foros privilegiados e pelos regimentos internos das casas, rarissimamente são punidos e, em muitos casos, nem chegam a ser julgados, pois os processos são arquivados, prescrevendo por "decurso de prazo" no STF, órgão (in)competente para julgá-los e que, casuisticamente, se submete ao Poder Executivo. Quando existem irregularidades administrativas, como o uso indevido de verbas indenizatórias e diárias ou mesmo os casos flagrantes de corrupção, o máximo que acontece são processos por "quebra do decoro paralamentar" e dos quais os parlamentares escapam ilesos e, os poucos que não conseguem, pedem o afastamento do cargo, para evitarem punições mais graves, decorrentes de um julgamento. E mesmo assim, os que se afastam - somente quando isso é inevitável -, voltam mais tarde; ou reeleitos ou reconduzidos a um outro cargo (vide os casos Renan Calheiros, Fernando Collor, José Roberto Arruda, Jader Barbalho, José Dirceu, etc).
Além da Constituiçao Federal, são três os principais diplomas legais que regem o processo legislativo brasileiro: "Regimento Comum do Congresso Nacional", "Regimento Interno do Senado Federal" e Regimento Interno da Câmara dos Deputados", os dois últimos, excessivamente permissivos e corporativistas, a tal ponto, que se torna quase impossível punir-se um parlamentar corrupto. A aplicação das normas só é observada no que favorece; fora disso, somente em casos especiais, quando e se invocadas, o que é raro. Mesmo nos casos disciplinares punitivos, sempre deixa brecha para uma válvula de escape. Daí para levar o país a transformar-se numa cleptocracia institucionalizada é um pulo. Aliás, na opinião deste modesto observador político, já vivemos sob uma cleptocracia (situação de fato), disfarçada de democracia (situação de direito).
O excessivo número de escândalos políticos ocorridos no Senado Federal, especialmente em 2008 e 2009, colocaram a Casa em uma incômoda evidência, deixando claro que algo deveria ser feito para ao menos fazer parecer que se estava tomando providências moralizadoras. Somente em 2009, de acordo com o "Monitor dos Escândalos Políticos do Congresso", no site Uol Notícias/Política, foram 108 ocorrências (9 por mês, uma média altissima), e em janeiro de 2010, 5, estando José Sarney, o atual Presidente do Senado, no centro da maioria das que vieram a público em 2009. Assim, no auge da crise dos "atos secretos", na qual ele foi o maior protagonista, veio a promessa de que seria feita uma reforma administrativa, antes do término do seu mandato. Nesse sentido, encomendou-se um estudo à Fundação Getúlio Vargas, ao mesmo tempo em que, antecipando-se a ele, resolveu acelerar os trabalhos da "Comissão Especial da Reforma do Regimento Interno", criada em 2008 e presidida pelo conhecido senador murista Marco Maciel (está em todas, sempre ao lado do governo, mesmo quando em um partido não alinhado). A idéia era a de que ao promover a alteração do regimento interno (criado pela Resolução nº 93, de 1970) com o pretenso objetivo de disciplinar, moralizar e acelerar o processo legislativo, pudesse ser restabelecida a "credibilidade" do Senado. Agora o projeto da reforma está pronto e recebe as pinceladas finais para aprovação e entrada em vigor, ainda em 2010.
Quais os reais objetivos e os perigos da alteração do "Regimento Interno do Senado"?
Aqui está o pulo do gato. Não subestimemos os políticos! Eles podem ser desonestos e
inescrupulosos, em sua maioria, mas são inteligentes ou, no mínimo, "espertos". Ora, trabalhando em surdina, eles alteram o regimento interno, sem a participação popular, aprovam as mudanças que lhes favorecem, e depois da aprovação do diploma legal e poucos dias antes da entrada em vigor, dão a notícia de que "fizeram as mudanças necessárias", quando já não cabe e nem há mais tempo hábil para o debate.
Basta uma rápida passada de olhos no novo texto referente à alteração do Regimento Interno do Senado para 2010 e percebe-se que a intenção não é torná-lo mais rígido, mais transparente e menos corporativista e sim, proteger ainda mais os parlamentares, criando-lhes novas facilidades para a impunidade e aprovação de projetos de interesse dos grupos dominantes. Dos cerca de 410 artigos de que é composto, 190 sofreram alterações.
De fato, de há muito que os regimentos internos da Câmara e do Senado carecem de uma profunda reforma, pois são eles que, em conjunto com outros instrumentos, permitem a impunidade e os desmandos que temos visto. Não tenho tempo, no momento, de analisar o caso mais a fundo e nem tenho autoridade e credibilidade para fazê-lo, mas deixo o link da matéria, a fim de que os nossos leitores tomem conhecimento das mudanças que estão sendo propostas e façam a sua própria avaliação do perigo que isto vai representar (como se já não bastassem os atuais). Vejam a íntegra da notícia no próprio site da Agência Senado, clicando aqui.
Vou destacar apenas dois exemplos, prometendo voltar a este assunto em outra oportunidade:
De fato, de há muito que os regimentos internos da Câmara e do Senado carecem de uma profunda reforma, pois são eles que, em conjunto com outros instrumentos, permitem a impunidade e os desmandos que temos visto. Não tenho tempo, no momento, de analisar o caso mais a fundo e nem tenho autoridade e credibilidade para fazê-lo, mas deixo o link da matéria, a fim de que os nossos leitores tomem conhecimento das mudanças que estão sendo propostas e façam a sua própria avaliação do perigo que isto vai representar (como se já não bastassem os atuais). Vejam a íntegra da notícia no próprio site da Agência Senado, clicando aqui.
Vou destacar apenas dois exemplos, prometendo voltar a este assunto em outra oportunidade:
1) Pela minuta do "novo regimento", cria-se a figura das "decisões terminativas", com o poder de ampliar a capacidade das comissões permanentes para emitir "documentos terminativos", que seriam definitivos e poderiam ser considerados aprovados sem o debate em plenário(???). Ora, aqui, todo mundo já sabe qual vai ser o golpe: cria-se uma comissão com maioria dos acólitos políticos e os projetos de interesse do governo podem ser aprovados por "decisão terminativa", sem o debate no Senado, a não ser que seja provocado por recurso formal, o que representa um certo desgaste e trabalho para a oposição que pode até desistir disso ou "negociar" na surdina, SEM PRECISAR SE EXPOR (a maioria dessas sessões são "secretas", não transmitidas por rádio ou TV);
2) ainda pelo novo texto, as CPIS ficariam impedidas de apreender documentos de investigados (???), salvo no caso de existência de "ordem judicial". Aqui, também fica fácil de entender os objetivos e as dificuldades criadas.
Mas há outras aberrações na minuta do projeto e nada se vê que melhore as coisas, no sentido de moralizar a atuação dos parlamentares e retirar do antigo texto (vigente num mar de rosas desde 1970) excrescências que permitem os desmandos e a impunidade, como as que regulam a "imunidade parlamentar", a remuneração, os benefícios e a parte disciplinar. Não, o que favorece os parlamentares eles não mexem, mas alguma coisa que ainda atrapalha, esta entra na reforma, para melhorar (para eles). O suposto objetivo da "reforma" seria dar mais transparência (odeio esta palavra) e celeridade ao projeto legislativo. Ah, como eles subestimam e acham o povo ingênuo...
Pô, será que ninguém vai falar nada sobre isso e provocar o debate político, antes que o projeto seja aprovado como está desenhado? Vão permitir mais esta farsa contra o povo? Seria bom que todos lessem, divulgasssem e alastrassem o assunto na internet. Quem sabe, assim, a Oposição ou a OAB ou a mídia resolvam intervir.
Mas há outras aberrações na minuta do projeto e nada se vê que melhore as coisas, no sentido de moralizar a atuação dos parlamentares e retirar do antigo texto (vigente num mar de rosas desde 1970) excrescências que permitem os desmandos e a impunidade, como as que regulam a "imunidade parlamentar", a remuneração, os benefícios e a parte disciplinar. Não, o que favorece os parlamentares eles não mexem, mas alguma coisa que ainda atrapalha, esta entra na reforma, para melhorar (para eles). O suposto objetivo da "reforma" seria dar mais transparência (odeio esta palavra) e celeridade ao projeto legislativo. Ah, como eles subestimam e acham o povo ingênuo...
Pô, será que ninguém vai falar nada sobre isso e provocar o debate político, antes que o projeto seja aprovado como está desenhado? Vão permitir mais esta farsa contra o povo? Seria bom que todos lessem, divulgasssem e alastrassem o assunto na internet. Quem sabe, assim, a Oposição ou a OAB ou a mídia resolvam intervir.
Fontes: Agência Senado e demais citadas com os respectivos links no corpo do texto
Nota: Para quem se interessar em conhecer e/ou estudar o inteiro teor do Regimento Interno do Senado, hoje em vigor, seguem os links: 1) Agência Senado: Regimento Interno do Senado Federal; 2) Scribd:- Regimento Interno do Senado Federal
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